segunda-feira, 19 de março de 2012

UMA SÚPLICA POR SEPARAÇÃO


Texto: 2Co 6.11-7.1

Introdução:
• Certa vez perguntaram a John Wesley o que ele faria se soubesse que Jesus voltaria semana que vem. Ele respondeu: “_ O mesmo que estou fazendo hoje”.
• O ponto forte desta passagem é a santificação “sem a qual ninguém verá ao Senhor” (Hb 12.14).
• “Santificação é a graciosa e contínua operação do Espírito Santo mediante a qual ele purifica o pecador, renova toda a sua natureza segundo a imagem de Deus e o capacita a praticar boas obras” (Louis Berkhof).
• Este é o ponto de Paulo aqui. Estes dois capítulos encerram de modo sincero e honesto, a explicação de Paulo acerca de seu ministério.
• Resta agora, apenas, desafiar o coração dos coríntios e assegurá-los de seu amor.
• Apesar de todos os problemas e tristezas que a igreja lhe causou, Paulo ainda amava profundamente os cristãos de Corinto. Falou-lhes com franqueza e amor, e agora lhes pedia com toda ternura que abrissem o coração para ele.
• Sentiu-se como um pai cujos filhos o privassem do amor que merece (1Co 4.15). Essa falta de amor por Paulo devia-se ao coração dividido dos coríntios.
• Os coríntios faziam concessões desonrosas ao mundo, de modo que Paulo suplica que se separem para Deus, da mesma forma que uma esposa fiel reserva-se para o marido.
• Em seu zelo excessivo, porém, alguns cristãos sinceros transformaram a separação em isolamento, a ponto de criar uma comunhão tão restrita que não são capazes de conviver uns com os outros.
• Em uma reação a esse radicalismo, há quem vá para outro extremo, derrubando todas as barreiras e tendo comunhão com qualquer um, sem levar em consideração as convicções ou o estilo de vida dos outros.
• Apesar de sua prática do amor cristão ser louvável, não podemos nos esquecer que até mesmo o amor cristão deve usar de discernimento (Fp 1.9-11).
• Paulo apresenta três argumentos para tentar convencer esses cristãos de que devem manter-se separados daquilo que é contrário à vontade de Deus.

1) A NATUREZA DO CRISTÃO (6.14-16)
• Na vida cristã, há relacionamentos que precisamos cultivar e outros que precisamos abandonar.
• É a natureza que determina a associação. Uma vez que o porco tem a natureza de porco, associa-se com outros porcos no chiqueiro. Uma vez que a ovelha tem a natureza de ovelha, rumina o capim junto com o rebanho no pasto.
• O cristão possui natureza divina (2Pe 1.3,4), portanto, deve ter o desejo de se associar com o que agrada ao Senhor.

A. Há uma exigência clara (6.14a): “Não vos ponhais em jugo desigual com os incrédulos”.
a. O conceito de "jugo desigual" vem de Deuteronômio 22.10: "Não lavrarás com junta de boi e jumento". O boi era um animal limpo para o povo de Israel, enquanto o jumento era impuro (Dt 14.1-8); seria errado, portanto, colocar ambos debaixo do mesmo jugo.
b. Além disso, esses animais possuem naturezas opostas e sequer são capazes de trabalhar adequadamente em conjunto.
c. Do mesmo modo, é errado o cristão encontrar-se sob o mesmo jugo que os incrédulos. Há coisas que são essencialmente distintas e fundamentalmente incompatíveis, por isso jamais podem ser unidas. Inclusive na esfera do casamento (1Co 7.12-15)
d. Uma associação com os incrédulos porá em risco a coerência cristã no culto e na ética (1Co 5,9-13).
e. Um crente não deve pôr-se debaixo do mesmo jugo com um incrédulo em, pelo menos, duas áreas: casamento e religião.
i. Vida conjugal: De acordo com 1Co 7.29, o casamento entre um crente e um não-crente está em desacordo com a palavra de Deus. Isso não dá direito de separação.
ii. Práticas de cultos pagãos: Paulo ataca o ecumenismo universal. A tese de que toda religião é boa e conduz a Deus é mentirosa.

B. Uma impossibilidade absoluta (6.14b-16a).
a. Cinco retóricas que recebem um NÃO absoluto. Vejamos:
i. A esfera do comportamento moral – “Que sociedade pode haver entre a justiça e a iniquidade?” (6.14). Nenhuma. São opostos morais. É uma incoerência.
ii. A esfera do entendimento espiritual – “Ou que comunhão das trevas com a luz?” (6.14). Não podem coexistir. Aonde uma chega a outra tem que se retirar. O homem sem Cristo anda nas trevas. Com Cristo anda na luz. Luz e comunhão andam juntas. Quem anda nas trevas não tem comunhão.
iii. A esfera da autoridade – “Que harmonia entre Cristo e o Maligno?” (6.15). Aqui vemos a diferença entre justiça x iniquidade; luz x trevas; santidade x profanação. O crente está debaixo da autoridade de Cristo. O incrédulo está sujeito às hostes do maligno.
iv. A esfera da fé – “Ou que união do crente com o incrédulo?” (6.15). Não quer dizer que não devemos ter contato com os incrédulos, pois isso só será possível se sairmos do mundo (1Co 5.9,10). Ele está dizendo para os crentes não imitarem o estilo de vida dos incrédulos. Para mim não há coisa mais triste que um crente ser comparado a um incrédulo. Ou um incrédulo ter um comportamento mais exemplar que um crente.
v. A esfera da adoração – “Que ligação entre o santuário de Deus e os ídolos” (6.16). A Igreja é o lugar da habitação de Deus. Ídolos pode ser dinheiro, fama, poder, pessoas que no final é idolatria, e por trás de toda idolatria há o envolvimento dos poderes demoníacos (1Co 8.4-6; 10.19-22).
b. O termo "harmonia" dá origem a nossa palavra "sinfonia" e se refere à bela música resultante quando os músicos lêem a mesma partitura e seguem o mesmo regente. Que confusão seria se cada músico tocasse o que bem lhe parecesse melhor!
c. Deus deseja que desfrutemos harmonia e união ao viver e trabalhar juntos. Quando tentamos andar com o mundo e com o Deus ao mesmo tempo, rompemos a comunhão espiritual e criamos discórdia e divisão.
d. A própria natureza do cristão requer que seja separado do que é profano. O crente de verdade tem a natureza divina.

C. Uma conclusão inequívoca (2Co 6.16b): “Porque nós somos o santuário do Deus vivendo, como ele próprio disse: Habitarei e andarei entre eles; serei o seu Deus, e eles serão o meu povo” (6.16b).
a. Deus habita no crente individualmente e na Igreja como um todo (1Co 6.16-20; 3.16,17). Somos morada de Deus. Templo do Espírito Santo. Ele habita entre nós. Somos seu povo, e Ele é o nosso Deus.
a. Paulo está dizendo que não podemos nos associar ao que é profano uma vez que habita em nós Aquele que é santo.
b. Santo x profano = duas naturezas distintas que não podem ocupar o mesmo espaço. Ou se é de Deus ou do maligno.

Transição: Primeiro argumento: Natureza do cristão. Segunda argumento...

2) A ORDEM DAS ESCRITURAS (6. 17A).
• Grande parte desta citação é de Isaías 52.11, mas também há paralelos em Ezequiel 20.34,41. Há várias citações tanto no AT quanto no NT de ordens de Deus para que o Seu povo fosse um povo separado.
• Isaías refere-se à nação cativa deixando a Babilônia e voltando para a própria terra, mas a aplicação espiritual diz respeito à separação do povo de Deus hoje.

A. “Por isso, retirai-vos do meio deles, separai-vos, diz o Senhor” (6.17a).
a. A ordem de Deus para seu povo é "retirai-vos", indicando um ato decisivo da parte deles. "Separai-vos" sugere devoção a Deus com um propósito especial (6.17).
b. Deus advertiu Israel a não se misturar com as nações pagãs na terra de Canaã (Nm 33.50-56); no entanto, os israelitas desobedeceram repetidamente à sua Palavra e foram disciplinados por causa disso.
c. Os profetas suplicaram ao povo incessantemente para que deixassem os ídolos pagãos e se dedicassem inteiramente ao Senhor.
d. Por fim, Deus teve de enviar Israel para o cativeiro na Assíria e Judá para o cativeiro na Babilônia.
e. A separação não é apenas um ato negativo de se retirar. Devemos nos separar do pecado e viver para Deus.
f. Deus escolheu a Igreja para ser um povo separado do mundo, embora esteja no mundo.
g. A Igreja está no mundo, mas o mundo não deve está na Igreja.
h. Assim como um barco está na água, mas a água não deve estar dentro do barco.
i. O crente pode conviver com pessoas não crentes. Mas, não deve participar de suas práticas pecaminosas.
j. A vida do crente deve confrontar diariamente a vida do incrédulo.

B. "Não toqueis em coisas impuras" (6.17b) é uma advertência quanto à contaminação.
a. Para os israelitas do Antigo Testamento, era terminantemente proibido tocar em um cadáver ou ter qualquer contato com o fluxo de uma ferida inflamada.
b. Hoje, o toque não provoca a contaminação espiritual, mas o princípio é o mesmo.
c. Não devemos nos associar com o que pode comprometer nosso testemunho ou nos levar à desobediência. O preceito divino da separação pode ser encontrado ao longo de todas as Escrituras.
d. Três áreas que, o crente precisa abandonar:
i. O seu ofício. Os convertidos na cidade de Éfeso tiveram que abandonar seu trabalho de fabricação de imagens da deusa Diana. O crente tem que abandonar o trabalho que é incoerente com a sua fé: bebidas, cigarros, baladas, jogos, artigos religiosos de idolatria.
ii. A vida social. Nos tempos bíblicos existiam muitas festas pagãs. Os crentes tinham que escolher entre a prosperidade e a fidelidade; entre a popularidade e a obediência a Cristo.
iii. A vida familiar. Esposas, filhos e maridos eram abandonados por causa de sua fé, causando muitos conflitos familiares.
e. Jesus rejeitou a falsa "separação" dos fariseus, advertiu os discípulos sobre o fermento (falsa doutrina) dos fariseus e saduceus e orou pedindo que Deus os guardasse da contaminação do mundo (Mt 16.6,11; [Jo 17.14-17).
f. Em nosso desejo de manter a pureza doutrinária e pessoal, não devemos nos tornar egocêntricos a ponto de ignorar os necessitados ao nosso redor.
g. Jesus foi "santo, inculpável, sem mácula, separado dos pecadores e feito mais alto do que os céus" (Hb 7.26), no entanto, foi "amigo de publicanos e pecadores!" (Lc 7.34).
h. Como um médico experiente, devemos praticar o "contato sem contaminação". De outro modo, acabaremos nos isolando das pessoas para as quais mais precisamos ministrar.

3) AS PROMESSAS DE BÊNÇÃOS DE DEUS (6.17B – 18).
a. “e eu vos receberei, serei vosso Pai, e vós sereis para mim filhos e filhas, diz o Senhor Todo-Poderoso”.
b. Quando cremos em Jesus Cristo como Salvador, Deus se torna nosso Pai, mas não pode ser um Pai para nós, a menos que lhe obedeçamos e que tenhamos comunhão com Ele.
c. Na mesma medida em que o crente se aparta do mundo, ele aproxima-se de Deus. Porém, o contrário também acontece.
d. Deus anseia por nos receber em amor e nos tratar como seus filhos e filhas queridos.
e. A salvação significa que compartilhamos a vida do Pai, mas a separação significa que desfrutamos plenamente o amor do Pai.
i. Deus abençoa os que se separam do pecado e se separam para servir ao Senhor. Abraão deixou Ur dos caldeus, e Deus o abençoou.
ii. Então, em um ato de transigência, Abraão foi para o Egito, e Deus teve de discipliná-lo (Gn 11.31–12.20).
iii. Enquanto Israel se manteve separado das nações pecadoras de Canaã, Deus o abençoou; mas, depois que começou a se misturar com os pagãos, Deus teve de discipliná-lo.
f. É um grande engano achar que precisa ser amigo do mundo a fim de ganhar o mundo.
i. A amizade com o mundo é inimizade contra Deus (Tg 4.4).
ii. Amar o mundo é desprezar o amor de Deus (1Jo 2.15-17).
iii. Conformar-se com mundo é deixar de ser transformado por Deus (Rm 12.1,2).
iv. Viver no mundo e como o mundo vive é ser condenado juntamente com ele (1Co 11.32).
g. "Tendo, pois, ó amados, tais promessas, purifiquemo-nos de toda impureza, tanto da carne como do espírito, aperfeiçoando a nossa santidade no temor de Deus” (7.1)
h. Todos têm algumas responsabilidades espirituais decorrentes das promessas que Deus nos dá em sua graça (2Co 7.1).
i. Devemos nos purificar, de uma vez por todas, de tudo o que nos contamina.
ii. Não basta pedir a Deus que nos purifique. Devemos limpar a vida e nos livrar do que contribui para o pecado.
iii. Nenhum cristão pode julgar o irmão ou irmã; cada um sabe dos problemas no próprio coração e vida.
i. Muitas vezes, os cristãos tratam dos sintomas, não das causas. Confessamos repetidamente os mesmos pecados, pois não chegamos à raiz do problema para nos purificar.
j. Talvez haja alguma "concupiscência da carne", algum "pecado de estimação" que alimenta a velha natureza (Rm 13.14). Ou talvez se trate de alguma "torpeza do espírito", uma atitude pecaminosa.
k. O filho pródigo cometeu pecados da carne, mas seu irmão mais velho "virtuoso" cometeu pecados do espírito. Não era sequer capaz de se relacionar com o próprio pai (ver Lc 15.11-21).
l. No entanto, nossa purificação é apenas metade da responsabilidade; também devemos "[aperfeiçoar] a nossa santidade no temor de Deus" (2Co 7.1). Trata-se de um processo constante, à medida que crescemos na graça e no conhecimento (2Pe 3.18).
m. É importante ser equilibrado. Os fariseus eram zelosos quanto à purificação, mas não se dedicavam a aperfeiçoar sua santidade.
n. Mas é tolice tentarmos aperfeiçoar a santidade, se ainda há pecados manifestos e ocultos em nossa vida.

Conclusão:
• Jesus chamou-nos para sermos sal da terra e luz do mundo (Mt 5.15-17). Nossa missão aqui neste mundo é de mostrar ao mundo que a salvação só é possível por meio de Jesus Cristo. E, que nós somos a prova viva de que isso é possível.
• Para isso as pessoas precisam acreditar em nossa pregação. Nossa vida deve provocar desejos profundos no coração daqueles que nos rodeiam.
• Nós fomos chamados para sermos diferentes e fazermos a diferença.
• A mensagem de hoje exige de nós duas decisões:
o Primeira, eu tenho que me esvaziar diante de Deus. João disse: “Convém que ele cresça e que eu diminua” (Jo 3.30). Aos olhos de Deus somos todos iguais. Não há distinção alguma. Tenho que me esvaziar de todo orgulho, vaidades, caprichos e arrogância pessoal. Por causa dessas coisas, muitos bons cristãos têm se associado com o mundo e vivido como um incrédulo. Por isso, tenho que me esvaziar. Pv 16.18: “A soberba precede a ruína, e a altivez do espírito, a queda”.
o Segunda, eu tenho que me encher mais de Deus. “Enchei-vos do Espírito” (Ef 5.18b). Tenho que pedir a Deus que gere em meu coração este desejo: de ser cheio do Espírito Santo e de tudo que se relaciona com Deus.

Divinópolis, 18/03/2012 – por Rev José Roberto de Oliveira
Alguns textos extraídos do Comentário Expositivo de Warren Webster e Hernandes Lopes.

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